
De 1990 até 2008, a comunidade brasileira do Japão passou por transformações e oportunidades comerciais surgiram.
Um dos problemas mais graves de (provavelmente) todas as famílias de brasileiros vivendo no exterior, a educação das crianças é um tema preocupante.
Todos comentam, debatem, criticam, reclamam, mas não acham soluções viáveis. Pois é preciso mexer na estrutura dos países onde vivem os brasileiros. Comento do Japão em específico, mas acredito que nos EUA e Europa também aconteça algo semelhante. Os brasileiros não vieram ao Japão para estudar. O objetivo no início do movimento “Decasségui” era na realidade ser a tradução literal dessa palavra. Sair para juntar seu dinheiro e voltar. Mas, o Japão é um país sedutor para se viver.
Abaixo um breve relato de como surgiram alguns negócios dentro da comunidade brasileira do Japão.
1. O Surgimento das escolas brasileiras no Japão
O mercado é regido por demandas. As escolas brasileiras surgiram por necessidade da população que vive no arquipélago, que optaram por colocar seus filhos na escola, pensando em voltar logo ao Brasil, para que eles continuassem os estudos lá.
Agora vamos a história.
No início do movimento “decasségui” (1990), poucos pensavam em ter família por aqui. A intenção era voltar em pouco tempo.
As coisas aconteceram.
As lojas de produtos importados do Brasil aconteceram.
As baladas aconteceram.
Os encontros aconteceram.
Os filhos aconteceram.
As creches aconteceram.
Enfim, as escolas aconteceram e em 2008, talvez estivessem faturando em torno de Us$ 30 milhões.
2. O surgimento das lojas de produtos brasileiros
Tudo que existe hoje na comunidade não estava no papel duas décadas atrás. Nada foi planejado. E no mundo atual, é preciso planejamento e estratégia para sobreviver a crises e dificuldades.
Há 30 anos não existia computador colorido e hoje temos celular que passa vídeos do mundo inteiro.
Ninguém planejou na década de 90, que os brasileiros iriam sentir saudades dos enlatados, doces, salgados, feijão e rapadura. E que 18 anos depois, haveriam mais de 220 lojas de produtos importados do Brasil com praticamente quase tudo que se encontra num supermercado da terra natal. Uma loja para cada 1.300 residentes. Acredito que a média de faturamento anual dessas lojas estivesse em torno dos Us$ 1,5 milhões/ano, totalizando Us$ 330 milhões/ano. Você gostaria de ser um fornecedor para participar deste bolo?
3. Pois bem, surgiram as importadoras e fabricas de produtos brasileiros.
Apenas uma grande importadora já trabalhava com produtos brasileiros há décadas, mas a partir de 1990 muitas outras surgiram para abastecer estas lojas e seus consumidores. Que pelos números acima, um mercado que estaria beirando os Us$ 200 milhões em 2008.
4. Ok! Temos comida, mas queremos diversão. As baladas brasileiras aconteceram, pois no início dos anos 90, era muito difícil um brasileiro entrar numa casa noturna japonesa, principalmente pelo “Dress Code”.
No início dos anos 90, surgiram 3 festas mensais em Nagoya, Gunma e Kanagawa, e cerca de 20 em 2008, chegando ao ponto de uma casa noturna japonesa de Nagoya promover um evento trimestral especialmente para os brasileiros, algo impensável duas décadas atrás. Mercado interessante, se contarmos uma média de 500 pessoas por evento, e gastos médios de Us$ 50, o faturamento anual do setor era Us$ 6 milhões.
5. Falando em “Dress Code”, lembrei das lojas de roupas brasileiras.
E podemos incluir moda brasileira também. Não só roupas, mas sapatos, perfumes, acessórios, etc.
Com o surgimento das baladas, o pessoal começou a querer roupas do Brasil, marcas famosas foram importadas e vendidas a preço de ouro. Principalmente para as mulheres que não se adaptavam e ainda não conseguem usar os modelos do Japão. Em especial as lingeries. Foi o setor que mais avançou em termos de tecnologia e logística. Chegando ao ponto de ter empresas que vendem produtos pela internet do Japão com entrega no Brasil e no mundo. Números? 60 lojas em 2008 e diversas “sacoleiras” talvez gerassem um mercado de Us$ 10 milhões.
6. As lojas de produtos e roupas foram os pontos chave para venda de jornais e revistas importadas do brasil. Surgiram também as mídias voltadas a comunidade.
Jornais, revistas gratuitas e sites. Mercado em 2008 estimado em Us$ 15 milhões.
7. Se na década de 90 os brasileiros economizavam tudo para ir embora, hoje eles preferem aproveitar o que o Japão tem de melhor. E os carros estão entre os melhores do mundo. Haviam mais de 50 lojas.
Um mercado estimado em Us$ 50 milhões em 2008.
8. Quem casa quer casa. E para ter casa, basta ter crédito. E para ter crédito no Japão, não há tantos problemas, requisitos como comprovação de renda, um avalista, e visto permanente são relativamente fáceis para quem vive a mais de 5 anos no arquipélago.
Pronto! Havia trabalho, comida, escola, carro, roupas e diversão, então faltava só fincar o seu pé na terra. As construtoras japonesas descobriram o maior sonho dos brasileiros. A casa própria. Com pagamento facilitado em 35 (TRINTA E CINCO) anos a juros baixos e quase o valor do aluguel mensal, ficou fácil. Muitas famílias decidiram comprar casa, mas nem todas chegaram a fincar realmente o pé na terra, depois de 2008, muitos abandonaram seus imóveis e foram para as terras tupiniquins. Esse é um mercado difícil de calcular pois são muitos milhões. A média de preço das casas giram em torno de Us$ 300 mil, e não tenho idéia de quantas são vendidas anualmente. Mas as prestações nem foram pagas ainda porque estamos falando de 35 anos e mesmo que a pessoa tenha comprado em 1990, ainda faltam 14 anos.
9. Para não passar de 10 tópicos, listo que há inúmeros outros serviços como tradução, assessoria, mudanças, agências de viagem, etc. Funcionando para os brasileiros no Japão. Aliás, agências de viagem e de emprego foram as que menos “aconteceram” na comunidade, pois já existiam no Brasil. Este seria o maior mercado até 2008, pois todos os brasileiros precisam comprar passagem para vir e voltar, e de uma agência para poder trabalhar. Reunindo tudo, um mercado de que superava os Us$ 10 bi
10. Enfim. O mundo de hoje é muito dinâmico. As mudanças acontecem a todo instante. Mas a estrutura continua a mesma. As pessoas só mudaram de lugar. É preciso investir mais no ser humano, na sua capacitação, para ele ser competitivo e vencer. E reconhecer pessoas que sejam pró-ativas, criativas, analíticas, corajosas.
Precisamos formar líderes para o futuro.
Belo texto , é por ai mesmo, quem de nós poderia imaginar que à 20 anos atrás tudo isso poderia acontecer, apesar da crise de 1997 e de 2008 o número de brasileiros por aqui tem mantido estável, ainda acredito nessa terra, basta as pessoas fazerem acontecer !