Você sabia que 6% da produção total de trigo do Brasil é feita pelas cooperativas de nikkeis?
E que 5.5% da produção de alho também?
Parece pouco, mas podemos mudar de opinião se contarmos que a população de nikkeis é estimada em 1.5 milhões, ou seja apenas 1.4% do total da população nacional. Agora vamos a história.
Visitei o museu da imigração em Kobe, totalmente reformulado em 2009, resultado de esforços da Associação Nipo-Brasileira, que conseguiu fundos através das visitas do seu Presidente Nishimura-San a todos os níveis de governo do Japão. Um local de passagem obrigatória para todos os que admiram a cultura nipônica. Sejam descendentes ou não dos japoneses que migraram para o Brasil.
As fotos, vídeos, textos e artigos históricos, nos dão uma dimensão do que representava o prédio que serviu de abrigo e ponto de partida para o Brasil e outros países da América Latina. É emocionante poder caminhar entre os 2 andares superiores e sentir na pele um pouco do que cada japonês passou ali antes de embarcar nos navios que saíram do Porto de Kobe. Trouxeram até foices e machados, usados pelos primeiros japoneses nas colônias em solo brasileiro.
Quantos não criaram calos, usando essas foices, rastelos, machados e enxadas, para iniciar um movimento de amor a uma terra até então desconhecida, do outro lado do mundo. Do início do Século XX até hoje, chegamos a quinta geração de descendentes, e ainda podemos notar a grande influência dos japoneses na agricultura brasileira. Em um estudo de 2006, a JATAK, dizia que as Cooperativas Nikkeis do Brasil, cultivavam uma área de 2.1 milhões de hectares. O que equivalia na época, a metade da área de cultivo do Japão.
Opa! Agora sim! Aumentamos a relevância do número postado no início. Depois de 100 anos, uma pequena comunidade, produz alimentos em uma área equivalente a metade do que teriam a disposição em seu país de origem. O pensamento daqui para frente, é conseguir que as gerações seguintes continuem este trabalho.
Os jovens que saem das áreas rurais para estudar, precisam ter motivação para voltar ao campo. Tarefa difícil para os dias de hoje. Inclusive para os próprios japoneses aqui do outro lado do mundo. A cada ano, diminuem terras ocupadas por plantações de arroz, e aumentam as com condomínios de kitnets. Na maioria dos lugares, vemos apenas velhinhos solitários cuidando de suas pequenas hortas e plantações.
Enquanto que no Japão há pouca desigualdade social e muita tecnologia para exportação. O Brasil tem muita desigualdade e pouca tecnologia. Nos anos 70, um grande projeto do Japão, ajudou o Brasil, na transformação de uma área de 200 milhões de hectares que diziam ser estéreis. O Cerrado.
O PROCEDER , um acordo entre os governos em 1974, mas que teve início apenas em 1979, começou a desenvoler 345 mil hectares (1,5 vezes o tamanho de Tokyo) e que hoje conta com mais de 10 milhões de hectares sendo cultivados.
Na área de minérios, além dos grandes contratos fechados entre Vale e diversas siderúrgicas japonesas nos anos 60, há ainda os grandes projetos de alumínio no Amazonas, ALBRAS e ALUNORTE que garantem 10% do que é consumido pelo Japão.
Outro grande projeto de cooperação tecnológica nipônica é a USIMINAS, que apesar dos inúmeros problemas no início, hoje é líder na produção de aço na America Latina.
Além destas contribuições financeiras e tecnológicas, da contribuição humana, desde os primeiros que saíram de Kobe. Hoje, há também a contribuição culinária, “pratos saúde” como sushis podem ser encontrados em churrascarias, supermercados ou restaurantes beira-mar.
E o pão de cada dia?
Também pode ter a contribuição do trigo, produzido por algum descendente, dos que calejaram as mãos com as ferramentas de 100 anos atrás.