
Quando estudava na 5a. série, a professora de redação nos pediu para ler o livro “Vidas Secas” de Graciliano Ramos. Ela dizia que era uma das melhores obras da literatura brasileira e que estava nos preparando para o vestibular. Acredito que no fundo, ela queria nos preparar para a vida. Lembro-me que quando ela citava algum autor ou título, os seus olhos brilhavam de tanto fascínio pelos livros. Sou grato a ela, que saiu do Nordeste e foi dar aulas para o ensino público na cidade onde nasci.
O livro é de 1963, mas depois de 49 anos, ainda é um tema atual. Há muitas “Vidas Secas” em vários lugares do Brasil e do mundo. Histórias de anônimos que vivem e sofrem com o que a natureza os oferece.
Mas o título foi feito para comentar sobre o povo do Nordeste do Japão. Local onde ocorreu a tripla catástrofe, terremoto-tsunami-acidente nuclear. Muitos hoje devem estar lembrando, rezando e pedindo a Deus que traga dias melhores para o povo de lá. E é incrível como muitos só enxergam as pessoas quando acontece algum desastre natural.
Poderíamos enxergar antes, agradecer antes, valorizar antes ou prevenir melhor. Os acontecimentos atuais são cíclicos, terremotos e tsunamis acontecem de acordo com escala de tempo. Podem ter intervalos de 10, 100 ou mil anos, se a região está sobre o “Círculo de Fogo” esses fenômenos voltam a acontecer. O Nordeste do Japão já havia sentido tsunamis de grandes proporções em 1933 e também em 1896. O reator 1 de Fukushima, construído em 1967, há 45 anos, estava num local onde havia probabilidade de tsunami, porém os engenheiros “acreditavam” que os reatores estavam “seguros”.
A diferença é que em 2011 a intensidade do tsunami foi muito mais forte, tanto que as ondas chegaram até a costa do Chile e EUA. Essa energia, talvez não tenha sido calculada pelos engenheiros de 1967. Só acertaram os cálculos da energia que iria ser utilizada para gerar desenvolvimento econômico para o país.
A base das decisões talvez tenham sido tomadas pelo pessoal da “área de exatas” com base nos números, e afetaram a “área de humanas” onde não há como mensurar os efeitos. Se o Nordeste do Japão antes era apenas um ponto distante no mapa das aulas de geografia, com essa tragédia, a vida humana será retratada mais de perto, como no livro de Ishii Kouta, sobre Atsushi Chiba, antes um desconhecido (para ocidentais) que foi parar no NYT através da jornalista Hiroko Tabuchi. Essa e outras histórias de anônimos do Nordeste, talvez sejam lidas por algum jovem no futuro, incentivado por uma boa professora de redação, que consiga transmitir o valor da vida, e o respeito aos que partiram.
Fonte: Wikipedia.org