
O ecossistema japonês de STARTUPS
Obter informações do ecossistema japonês de startups não é uma tarefa fácil para os brasileiros. A maioria das notícias sobre M&A (fusão e aquisição), rodadas de capital, IPO’s (oferta inicial de ações) e eventos, são difundidas na língua local, e em kanji “漢字”.
A parte positiva é que o Japão atrai cada vez mais estrangeiros e cresce o interesse no ecossistema da terra do sol nascente. Veja alguns canais na língua da rainha.
3 Fontes de informações sobre startups no Japão (em inglês)
- TechinAsia Japan Startup de Cingapura, tem investimento de Eduardo Saverin, mantém escritório em Tokyo, jornalistas “full time” e produz um dos maiores eventos de Startups no Japão, TechInAsia Tokyo, todos os anos em Setembro. Neste ano (2017) as startups da Coréia do Sul desembarcaram em peso com diversos stands e atendentes falando a língua japonesa, um bom exemplo para as startups do Brasil.
- The Bridge Canal de informações exclusivas do Japão, com alguns artigos traduzidos. É parceiro do PRTimes, o maior site de publicações de releases (para imprensa) das empresas do Japão.
- DisruptingJapan Podcast do Tim Romero que entrevista fundadores de startups no Japão. As entrevistas são conduzidas em inglês e o Tim consegue muitas informações dos entrevistados, mesmo os que tem pouco domínio da língua.
Capital de risco
O Japão distancia-se de Silicon Valley, onde o risco faz parte da cultura dos americanos e muitos investimentos são feitos no Power Point. Os japoneses gostam mais de Excel. Porém, nos últimos anos, houve crescimento no número de fundos de capital de risco para investimento “early stage”, e há um movimento de empreendedores se tornando investidores anjos, depois das suas saídas com M&A’s e IPO’s.
No meio dos fundos de Venture Capital japonês, destaco os de maior experiência em saídas. Jafco, com quase 1.000 IPO’s. E NVCC com 140 IPO’s.
Os IPO’s fazem parte da cultura japonesa do capital de risco. Em recente post (em japonês) James Riney, da 500 Startups Japan, conta que os pitchs que recebe dos fundadores japoneses, tem o IPO como objetivo principal.
Esse caminho de saída, é relatado também no artigo que cita o IPO como séries B (em inglês), 7 coisas que investidores e fundadores precisam saber sobre o ecossistema de startups do Japão.
Numa comparação básica da TSE com a B3, notamos que a média do valuation das empresas japonesas listadas é menor do que as brasileiras. $843B/363 listadas = $2.43B na B3, e na TSE $4.37T/2292 = $1.9B. Mas o número de empresas listadas na TSE impressiona. Por comparação, a Nasdaq tem 3.058 e a NYSE, tem 2.400 empresas de capital aberto.
Abrir capital na TSE não é apenas uma fonte de financiamento para as empresas. É um peso enorme no cartão de visitas e abre portas para startups que desejam fazer negócios B2B. Para startups B2C, funciona como um atrativo na hora de contratar profissionais seniores. O nível de exigência para listar ações na seção Mothers é bem menor que nas bolsas de outros países.
Para chegar no IPO, o caminho é árduo, porém há VC’s e capital humano para ajudar as startups no Japão. Além dos fundos japoneses, há também os estrangeiros presentes no arquipélago, como o Atomico, Draper, DCM, GCP, Fidelity, etc. Fiz uma lista dos VC’s que investem em capital semente no Japão.
10 fundos independentes de CAPITAL SEMENTE no Japão
- Incubate Fund Com o tema “Firs round, lead position” e “Zero to one”, é um dos mais ativos fundos em investimento “early stage” no Japão. Tem um programa de aceleração chamado “Incubate Camp” e nomes importantes na cena de investimento no arquipélago. Na última edição japonesa da Forbes Midas List, o GP Yusuke Murata ficou em 1o. lugar. Do seu portfólio (exit), destaco a GUMI, startup de games que após o IPO já fez diversos investimentos anjo.
- Global Brain Seu lema é “Fostering world-class venture companies”, a especialidade deste fundo é gerir outros fundos em parcerias com grandes empresas e o governo. Com isso, o número de M&A são maiores do que IPO’s. Dentre as startups do seu portfólio, destaco a Axel Space, que oferece serviços e produção de micro satélites.
- East Ventures É uma das mais ativas “early stage” VC no sudeste asiático e seus fundadores fazem parte da história de Bitvalley. Das dezenas de startups do portfólio, destaco a Nulab, um exemplo de startup global do Japão, que cresceu de forma orgânica e só recebeu seu primeiro investimento depois de 13 anos. E o anúncio foi feito durante o TechInAsia Tokyo 2017.
- 500 Startups Japan Considero a 500 Startups Japan, um divisor de águas dentro do ecossistema japonês, até então, dominado por investidores seed locais. A contratação de James Riney (ex DeNA Ventures/Storys.JP) fez a conexão do ecossistema japonês com o mundo. Foi eleito 30 under 30 pela Forbes em 2016. Destaco do seu portfólio a Infostellar, startup que conseguiu investimento da Airbus.
- Beenext Tem grande destaque no sudeste asiático e Índia, no Japão, Hiro Maeda, se especializou no mercado SaaS e tem colaborado muito no crescimento do ecossistema japonês. Destaco a SmartHR, startup SaaS de HR, que conseguiu mais de 8 mil clientes em 18 meses.
- Anri Ainda na casa dos 30 anos, Anri Samata é o fundador deste fundo de capital semente inovador. Com ampla visão de mercado, investiu na plataforma MCN UUUM e também numa das startups mais valiosas do mercado japonês, a Raksul.
- Infinity Venture Partners Fundo co-fundado por Akio Tanaka, um dos poucos fundos japoneses com parcerias globais, inclusive no Brasil, através da e.Ventures. Destaque para a startup Freee, uma SaaS que fez uma disrupção na cultura do papel das empresas japonesas.
- WIL Fundo que conecta Japão e Silicon Valley. Destaque para a startup Mercari, um dos poucos unicórnios do Japão.
- Samurai Incubate Mantém um programa de incubação no Japão e Israel. Destaque para a startup Synapse, comprada este ano pela DMM.COM
- Primal Capital Investe seed stage e foi a primeira VC japonesa a investir numa startup fundada por um latino americano no Japão. A OneVisa.
Pós IPO e CVC
Muitos fundadores talvez pensem no IPO como o seu maior objetivo, porém, no Japão, há diversos casos da startup aumentar seu crescimento exponencial após o IPO. Talvez o caso mais conhecido dos brasileiros seja a Rakuten, que comprou a Ikeda em 2011. A startup de Hiroshi Mikitani também inovou ao adotar o inglês como língua oficial, o englishnization. Investiu na globalização patrocinando o Barcelona, e tem seu próprio fundo de venture capital, o CVC Rakuten Capital.
Gree e DeNA são outros exemplos de inovação e expansão. Gree com seu fundo de CVC GREE Ventures, e DeNA, que comprou um time de baseball. Aliás, os times de baseball comprados pelas empresas de tecnologia estão subindo no campeonato. Além de DeNA, há os times do Rakuten Eagles que revelou o Pitcher Massahiro Tanaka (hoje no Yankees), e SoftBank Hawks, um dos times mais vitoriosos dos últimos anos. Espero que alguma empresa “tech” compre o time da nossa região, Chunichi Dragons.
No Brasil, ainda são poucos casos startups que aderem ao “Corporate Venture Capital” após os exits (M&A/IPO), como foi, em partes, o caso do Buscapé. Nesse ponto, as startups japonesas estão bem representadas. Além da Softbank Capital (Vision Fund) e das citadas acima, há outras em destaque.
10 Corporate Venture Capital Funds e suas startups no Japão
- Cyber Agent Ventures Braço de investimento da Cyber Agent, startup fundada em 1998. Que após o IPO e crescimento acelerado, investe “early stage” “hands on” no Japão, sudeste asiático e EUA. Destaque para o investimento na Tokopedia em 2011.
- DG Incubation Parte da Digital Garage, empresa de Joi Ito, um dos fundadores da internet no Japão e Diretor do MIT Media Lab. É um ícone dos CVC’s entre o Japão e EUA. Destaque no seu portfólio, a startup global de design Goodpatch.
- Globis Capital Partners Fundo da empresa de educação corporativa Globis, um dos primeiros a adotar o modelo “hands on” ou “smart capital”, dentre os fundos CVC. Destaque para o investimento seed na Pixta, plataforma de fotos e design digital.
- DAS Capital Fundo angel de Shinji Kimura, empreendedor serial que fundou e teve “exit” em diversas startups no Japão. Destaque atual para Bitflyer, maior plataforma de bitcoin trading no Japão.
- YJ Capital Como o fundo CVC da Softbank está acima da órbita, há outro fundo CVC que saiu de um CVC. Complicado? YJ significa Yahoo Japan, fruto do investimento que Masayoshi Son fez no Yahoo (30%) e fundou o maior sucesso da internet japonesa, antes do Alibaba na China. Destaque de investimento lead na Bizreach plataforma premium de HR no Japão.
- Colopl Next Fundo da empresa de games Colopl, investe principalmente em startups do setor VR. Destaque para a startup Fove.
- LINE Ventures A LINE, que pertence a gigante NHN da Coréia do Sul, é um caso interessante de cross-border investment que deu certo. A NHN comprou a japonesa Livedoor, lançou o app LINE, fez seu IPO na TSE e investe em outras startups. Destaque para o app Snow sucesso exponencial no Japão.
- GMO Venture Partners Faz parte da GMO, um dos maiores grupos de internet do Japão. Destaque para a startup Sansan, do App Eight, CRM para contatos B2B.
- Monex Ventures Parte da Monex, uma fintech japonesa fundada antes da palavra fintech virar moda. Destaque para o investimento na startup de informações financeiras Stockclip.
- Docomo Ventures CVC da NTT Docomo, maior operadora de celular do Japão. Destaque para Soracom, startup que foi adquirida pela concorrente KDDI.
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