Os ícones do ecossistema japonês
Depois de escrever sobre o Ecossistema de negócios brasileiros no Japão, e 20 Startups e investidores japoneses, vou aprofundar a análise dos pós-IPO’s das startups japonesas e porque a tese de “IPO as a series B” funciona no Japão.
O ecossistema japonês tem mais valor depois dos IPO’s. E o valor cresce de forma exponencial quando os founders retornam o capital, investindo nas startups.
Esse é o caso de Masayoshi Son, que hoje o mundo conhece pelo seu Softbank Vision Fund. Os brasileiros no Japão, o conhecem desde 2006, quando ele comprou a Vodafone e 2007, com a venda do iPhone no arquipélago.
Os americanos talvez conheçam ele de 1996, quando investiu no Yahoo. Formando o Yahoo Japan. E os chineses em 2000, quando investiu no Alibaba.
Os ingleses talvez se surpreenderam quando ele comprou a ARM em 2016. E os brasileiros em 2017 quando ele investiu na 99.
O mito Masayoshi Son, representa um ecossistema inteiro. E tudo começou quando ele vendeu seus primeiros projetos patenteados, ainda na faculdade em 1977, e arrecadou $3.2M em 8 meses. Voltou para o Japão e iniciou a história da Softbank, com o conceito de banco de softwares, fez IPO e depois iniciou diversos investimentos no setor de TI.
Seu irmão mais novo, Taizo Son, também agrega valor ao ecossistema com sua empresa de investimentos Mistletoe.
Outro ícone japonês e um dos fundadores da internet no Japão é Joi Ito, atual diretor do MIT Media Lab. Fundou a Digital Garage em 1994 e investiu tanto no ecossistema japonês, quanto no americano.
O diferencial japonês
Apesar da visão externa de que os japoneses não assumem riscos, a bolsa de valores de Tokyo, o mercado Forex no Japão e os 1M de investidores em Bitcoin provam o contrário. Veja o gráfico abaixo:

São quase 50 milhões de investidores individuais japoneses, e os estrangeiros (443.483) representam cerca de 70% do total da B3:

Esse apetite por investimentos, tornam os IPO’s no Japão atrativos para as Startups. Que conseguem financiar seu crescimento com o investimento da população nipônica.
IPO’s de Startups da Jafco no Japão
Nos anos 90, haviam mais de 20 milhões de investidores individuais na bolsa de Tokyo e mesmo depois do “crash” do final da década anterior, os japoneses continuaram investindo. Uma das mais antigas VC’s do Japão, a Jafco, foi responsável por investir em startups que resultaram em 992 IPO’s até 2017. Listei algumas startups e marcas relevantes do histórico deles:
- SEGA em 1986, marca de games. Valuation atual $3,34B.
- Capcom em 1990, marca de games. Valuation atual $2,23B.
- Taito em 1993, marca de games, delistada.
- Softbank em 1994, histórico acima. Valuation atual $90B.
- USS em 1999, rede de leilões de carros via satélite. Valuation atual $6,76B.
- GMO em 1999, uma das primeiras empresas de internet a fazer IPO, 8 anos após sua fundação. Valuation atual $2,2B. Já retornaram investimento ao ecossistema com o fundo GMO Venture Partners, sucesso de 12 saídas (exits). Uma delas a Freakout, na lista abaixo.
- Monex em 2000, uma das primeiras fintechs no Japão. Valuation atual $800M. Retornaram investimento ao ecossistema com o fundo Monex Ventures.
- Cybozu em 2000, 3 anos após sua fundação, líder no setor no GPTW Japan. Valuation atual $292M.
- Septeni em 2001, 11 anos após sua fundação, uma das startups mais internacionalizadas do Japão. Valuation atual $424M. Retornaram investimento ao ecossistema com a incubadora Septeni Ventures.
- OPT em 2004, 10 anos após sua fundação, uma das maiores startups de mkt digital. Valuation atual $267M. Retornaram investimento ao ecossistema com o fundo OPT Ventures.
- Klab em 2011, 11 após sua fundação, desenvolvedora de games. Valuation atual $608M. Retornaram investimento ao ecossistema com o fundo Klab Ventures.
- Enigmo em 2012, 8 anos após sua fundação, um dos maiores marketplaces de marcas estrangeiras de moda no Japão com 4M de usuários. Valuation atual $216M.
- Colopl em 2012, 4 anos após sua fundação, grande desenvolvedora de games. Valuation atual $1,39B. Retornou investimento através de vários fundos de investimento.
- Cyberdyne em 2014, 10 anos após sua fundação, produz materiais de robótica para medicina. Valuation atual $2,39B. Retornou investimento em startups de robótica.
- Freakout em 2014, 4 anos após sua fundação, plataforma de publicidade digital. Valuation atual $312M. Retornou investimento em diversas startups.
- Recruit HD em 2014, relistada na bolsa de Tóquio. Uma das empresas que mais produziu empreendedores e founders no Japão. Diversas startups foram formadas por ex-funcionários da empresa. Valuation atual $42,3B
- FrutaFruta em 2014, 12 anos após sua fundação, marca de açaí. Única empresa relacionada ao Brasil listada na bolsa de Tóquio. Valuation atual $10,3M.
- Gumi em 2014, 7 anos após sua fundação, desenvolvedora de games. Valuation atual $295M. Retornou investimento no ecossistema através do fundo Gumi Ventures.
- Gunosy em 2015, 3 anos após sua fundação, app de notícias. Valuation $715M. Seu co-founder Shinji Kimura é um dos investidores de mais sucesso em saídas (IPO’s/M&A’s) no Japão.
Outro fundo de venture capital NTVC, fundado por um ex-manager da Jafco, investiu em 2000 na DeNA, plataforma de e-commerce e games. Valuation atual $3,18B. Retornou investimento em dezenas de startups. Seu co-fundador Shogo Kawada é um ativo investidor anjo e mentor.
Rakuten, conhecida pelos brasileiros, fez IPO em 2000, é uma das poucas japonesas globais. Valuation atual $12,8B. Além dos investimentos em startups, formou um ex-funcionário que fundou a GREE, startup de games com investimento da Globis e IPO em 2004. Valuation atual $1,56B. Retornou investimento em dezenas de startups japonesas, dentre elas a Giraffe, que no final de 2017 comprou a startup Peing (Q&A via Twitter). O impacto no ecossistema foi grande, porque a Peing havia sido lançada 1 mês antes, talvez o M&A mais rápido até hoje. Como serão os próximos M&A’s aqui?
Cyber Agent, a startup das startups, fez IPO em 2000, 2 anos após sua fundação. Valuation atual $5B. Retornou investimentos em startups além do Japão, na Asia e EUA.
Unicórnio japonês
Pela lista da CB Insights que começou a ser divulgada em 2009, só há 1 unicórnio no Japão, a Mercari. Com a Nubank na lista esse ano, o Brasil se equiparou ao Japão.
Mas os IPO’s das startups japonesas nos anos 90/2000 mostram uma tese válida de crescimento pós-IPO e reinvestimento no ecossistema. Movimento que ainda é tímido no Brasil.
O diferencial entre os dois países são os milhões de investidores PF japoneses. Que tornam o IPO um caminho a mais de saída no Japão do que apenas M&A no Brasil.
*Disclosure: Este blog é apenas informativo, não recomenda nenhum investimento. Suas ações são decorrentes da sua própria escolha.